quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Uma doença que enriquece os especialistas


Olá, muriaenses!!

No primeiro artigo de 2012, vou falar sobre sobre o custo de uma mulher portar endometriose. Ser portadora de uma doença enigmática, que muitas vezes é tida como incapacitante, num país subdesenvolvido, é receber a sentença de um sofrimento sem fim. Ter essa certeza e escrever sobre isso é uma grande decepção pra mim, que sou brasileira, e apesar de muitos acharem que eu não gosto do país, porque digo que quero muito viver num país onde os políticos são honestos, eu digo: gosto muito daqui, e se não fosse esses políticos corruptos, talvez não quisesse tanto ir embora. Não adianta sermos a sexta economia do mundo, passar o Reino Unido, se ainda não oferecemos saúde e educação aos quase 191 milhões de brasileiros. Isso é um absurdo e uma grande contradição! Só os bobos (para não dizer outra coisa) é que comemoram isso. 

Mais absurdo ainda é quando você porta uma doença que destrói toda a vida da mulher, seja no âmbito profissional, no pessoal ou no social, e que essa mulher, que paga seus impostos mensais em dia, é obrigada esperar um ano ou até mais por uma cirurgia na rede pública. Mais absurdo ainda é constatar que essa doença é tão desconhecida da classe médica quanto dos cidadãos. Isso me dá um grande pavor e uma profunda tristeza. No Brasil, muitos profissionais aproveitam que são especialistas renomados, que são conhecidos por especializações no exterior, por estarem na mídia ou por serem professores de grandes universidades e cobram fundos e mundos por consultas e cirurgias. Aproveitam que há poucos bons especialistas no país e o fato também de a doença ser extremamente grave para abusar dos preços de seus serviços. Agora, bons especialistas que atendem e operam por convênios são raros. Nossa quase não existe.  

Bom, resolvi escrever sobre esse assunto, que até já pincelei por aqui, porque recebo diariamente inúmeros e-mails contendo os mais absurdos preços por uma cirurgia feita por videolaparoscopia. Tenho em mãos preços que variam de 15 a 35 mil reais apenas pelo serviço de ginecologista especialista na doença. Isso sem contar hospital, anestesista, um gastro ou um procoto, que em muitas cirurgias, a chamada equipe multidisciplinar é fundamental para conter o avanço da endo. Se cada especialista cobrar isso, dependendo da quantidade de médicos, uma cirurgia pode sair por mais de 30 a 100 mil reais. 

Uma verdadeira fortuna para a maioria das mulheres que vive com um salário mínimo de 622 reais. Para quem tem a dispareunia, a fisio uroginecológica é outra despesa gigante Por se tratar de uma fisio muito específica, ela é muito cara. Além dos cursos de especializações serem muito caros, existe poucas pessoas interessadas nessa área. Razões pelas quais 30 minutos de sessão custam cerca de 250 reais. No meu caso, eu precisava de duas sessões por semana. Na semana seria 500 reais, num mês 2 mil reais. Um valor absurdo para quem não nasceu abastarda pelo dinheiro, ou para quem não pensa como os nossos políticos, que só roubam, roubam, roubam e quase nada fazem. Além dos especialistas, as medicações também são muito caras. Só o Zoladex, por exemplo, custa cerca de 2 mil reais. É a endometriose enriquecendo os especialistas e laboratórios. Claro, por aqui, sempre tem um espertinho que ganha com o sofrimento do outro. 

Aí, uma situação que eu fico ainda mais abismada é quando vejo portadoras, que deveriam ser contra tudo isso, indicando apenas médicos particulares. Muitas vezes não acredito que essa pessoa tem endometriose. Será que a doença não trouxe a ela problemas financeiros? Afinal, eu tive a minha vida devastada pela endo. É como se um tsunami tivesse passado por ela. Em março, irá fazer três anos que descobri ser portadora de endo, e ainda junto os cacos para tentar reconstruir a minha vida. Ainda hoje tenho reconstruí-la, e mesmo com as dívidas e o acordo com banco (até agora o meu único acerto), ainda falta um cartão e a minha prima, mas tudo que faço é com muita honestidade. Prefiro ficar como a babaca honesta, mas com a minha consciência paz. Em muitos momentos tenho muita raiva disso tudo, mas sei que um dia teremos que prestar contas de tudo o que fizemos por aqui. Se eu morasse num país desenvolvido, se a doença fosse reconhecida como social por aqui, como é na Europa, e se ganhássemos algo do governo, enquanto estivéssemos em tratamento, a minha vida não teria virado de pernas pro ar. É como se não existíssemos para o governo. Louco isso não?! No Brasil, pagamos impostos altíssimos até para respirar. Como eu digo, aqui só não pagamos impostos para sonhar, de resto pagamos tudo, mas o engraçado é que não existimos para os nossos governantes.

Temos que fazer alguma coisa. E urgente!! Não podemos ficar parada. Não aé justo sermos tratadas com tanto desprezo por parte de nossos governantes. Ainda mais num país que tem mais mulheres do que homens. Sim, no Brasil, a população está mais feminina. Já somos 97.342.162 contra 93.390.532 homens. Então, cerca de 10 a 15 milhões de brasileiras têm endo. No mundo, são mais de 120 milhões de portadoras. Muita gente, não! Pois é, mas pelo fato de nós, mulheres, adiarmos cada vez mais a maternidade, infelizmente, esse número só tende a aumentar. Por isso, além da importância de informar, o Brasil tem que ter uma nova atitude e traçar nova diretriz na chamada Saúde da Mulher. Se isso não acontecer, muitos especialistas continuarão fazendo fortuna à custa de uma doença que traz só sofrimento às mulheres.  Esse tema é um assunto e tanto para refletirmos, principalmente, num ano eleitoral como esse. Beijos com carinho!!