sábado, 25 de junho de 2011

Dispareunia, você sabe o que é isso?

No meu terceiro artigo para o site, eu vou falar sobre a dispareunia. Noooossa, o que significa isso? Eu também estranhei a primeira vez que ouvi essa palavra no ambulatório de algia pélvica e endometriose da UNIFESP-EPM (Universidade Federal de São Paulo ? Escola Paulista de Medicina). Por isso, eu digo: é muito importante as portadoras fazerem tratamento com um ginecologista especializado na doença. Eu já sabia que tinha endometriose há pelo menos oito meses e já estava em tratamento quando ouvi a seguinte pergunta de um ginecologista da UNIFESP: Você tem dor durante as relações sexuais?.

Confesso que achei um pouco estranha, mas a minha resposta foi automática: sim e muita, aliás, quer dizer, faz um tempo que não tenho relações, porque não tenho vontade de transar. A dispareunia nada mais é do que sentir dor durante as relações sexuais. E digo: dói, dói, dói muito. É impossível ter ou continuar a relação por conta da incapacitante dor. Além de muito intensa, é uma dor ardida, como se você tivesse uma ferida enorme em carne viva e jogasse a mistura de sal e limão. Mas ai você multiplica a dor dez mil vezes maior. Imediatamente, o Dr. Rodrigo me encaminhou a fisioterapia para que as profissionais avaliassem o meu assoalho pélvico. Nooossa, outra palavra esquisita. Aí, eu perguntei: O que é isso doutor, assoalho pélvico. O assoalho pélvico é toda a musculatura da vagina. A endometriose além das dores pélvicas causa também a dispareunia, ou seja, a dor durante as relações sexuais, porque a doença enrijece os músculos, disse o médico.

Até então, eu não imaginava o quanto a doença é perigosa. E nunca havia ligado os fatos: a dor e a não vontade de transar com a endo. Na semana seguinte, lá fui eu toda feliz para a avaliação com a fisioterapeuta. Na verdade, eu ainda não sabia o quão grave e perigosa é a endo. Fui atentida pela Dra. Thais. Eu ainda tímida, não sabia o que me esperava. Muito simpática, a Dra, explicou como seria a avalição. Com o meu dedo, eu vou avaliar toda a musculatura da sua vagina para ver se há algum tensão, explicou. Quando Thais encostou o seu dedo logo no começo da minha vagina, no intróito, eu quase morri de tanta dor. Eu não sabia se eu gritava, ou se eu chorava. Foi horrível.

Diagnóstico: dispareunia de profundidade, ou seja, a mais avançada das dispareunias. Nesse estágio, a musculatura de toda a vagina foi afetada pelas tensões. A partir daí, começou o capítulo mais dolorido da minha vida e a minha luta em difundir a dispareunia e a endometriose. Thais marcou dez sessões de fisio uroginecológica. Como sexo sempre foi um tabu em nossa sociedade, o preconceito quanto à fisioterapia vem da própria portadora. Quando eu falo sobre a doença às pessoas, a maioria não conhece e, quando sabem do que se trata, acham que a infertilidade é a pior consequência da endo.

A meu ver, a dispareunia é sem dúvida, a pior dor e uma das piores consequências da endometriose. É aquilo que sempre falei: Como a mulher pode pensar em ter filhos, se ela não consegue transar e, pior ainda, se ela não consegue ter prazer no sexo?.

Esse artigo não é somente para as portadoras de endometriose, mas, principalmente, aos seus parceiros. Muitos não entendem suas mulheres e acabam forçando-as a fazerem sexo. Isso além de ser um estupro, piora ainda mais a situação da portadora. Na UNIFESP, eu ouvi muitas histórias tristes, desde o marido que forçou a mulher ao sexo, até aquele que levou a amante para casa, só para mostrar a mulher o que é e como se faz sexo. O importante é ter um parceiro compreensivo. Eu, graças a Deus, tenho um meu namorado maravilhoso e que nunca me cobrou nada. Nem mesmo antes de saber que eu estava doente. Sei que existem muitos outros como ele. No próximo artigo, eu vou explicar como é a fisioterapia uroginecológica ...

Um pouco mais sobre a doença

Olá muriaenses!!

No meu artigo de estreia no Muriaé na Web (leia aqui), eu contei como recebi o convite para escrever no site. Agora, nesse meu segundo, vou explicar um pouco mais sobre a doença. Mas, afinal, o que é a endometriose? Como ela acontece? Eu disse apenas que a endo se dá a partir da menstruação. Mas como isso ocorre?


A endometriose é a presença do tecido chamado endométrio fora do seu habitat natural, o útero. O endométrio reveste o útero, e é o responsável por prepará-lo para receber o embrião. Quando não há a fecundação, o tecido endometrial se descama e é expelido na próxima menstruação. A cada ciclo menstrual essa rotina se repete. Porém, em alguns casos, ao invés de o endométrio descer pelas tubas uterinas até chegar à vagina, ele migra, por meio da corrente sanguínea, em sentido oposto, e se espalha em outros órgãos como ovários, intestinos, ligamentos pélvicos, como o úterossacro, bexiga, apêndice, vagina, mas pode ficar também no abdômen. Essa é a teoria da menstruação retrógrada. Quando isso ocorre, os focos de endo começam a se instalar em nossos órgãos. A endometriose pode se alojar, inclusive, dentro do músculo do útero. Nesse caso, o nome é adenomiose. Nos ovários, dá-se o nome de endometrioma. Em casos raros, ela pode ser encontrada em órgãos distantes como pulmão, pleura e sistema nervoso central.

A doença ainda não tem cura, mas pode ser muito bem controlada. O que os especialistas fazem, em primeiro lugar, é dar às portadoras, uma melhor qualidade de vida. O que tira essa ?qualidade? é a dor muito forte. Por conta das dores, muitas mulheres não saem mais de casa, não têm relação sexual com seus parceiros, não conseguem trabalhar. Ou seja, não tem vida social, afetiva e, muito menos, a profissional. A doença afeta também a vida familiar. Dependendo do caso, principalmente, em quem tem muita aderência pélvica (os órgãos colam uns aos outros), como eu tive, as dores são constantes e, muitas vezes, não conseguirmos explicar como é e, de onde vêm essas terríveis dores. Com isso, a família não acredita em nossas dores. Por isso, a endometriose é muito perigosa. Sem o apoio da família, do companheiro, dos amigos e, sem trabalho, a depressão é uma das consequências mais graves da doença. Mas, como a dispareunia, a depressão também merece um artigo especial aqui.

Outra coisa que quero corrigir é o número de portadoras. Em meu primeiro artigo, eu falei algo em torno de seis milhões de brasileiros, mas, pasmem, de acordo com o Censo 2010, esse número mais que dobrou. A população está mais feminina. Mais um motivo, pelo qual, a endometriose merece toda a devida atenção e tratamento adequado. Já somos 97.342.162 contra 93.390.532 homens. Então, cerca de 10 a 15 milhões de brasileiras têm endo. Eu também fiquei chocada! No mundo são mais 90 milhões. Muita gente, não! Pois é, mas pelo fato de nós, mulheres, adiarmos cada vez mais a maternidade, infelizmente, esse número só tende a aumentar. Por isso, além da importância de informar, o Brasil tem que ter uma nova atitude e traçar nova diretriz na chamada Saúde da Mulher.

Infelizmente, a endo não está na pauta da Saúde da Mulher para 2011. Em uma reunião realizada pelos ministros Alexandre Padilha, da Saúde, e Iriny Lopes, da secretaria de políticas para as mulheres, no dia 7 de fevereiro, no Ministério da Saúde, em Brasília, o tema abordado no capítulo III foi ?Saúde das mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivos?. Porém, as unicas doenças citadas foram câncer e a AIDS. Aí, eu pergunto: qual outra moléstia agrega em uma só, a saúde das mulheres, os direitos sexuais e os reprodutivos? A endometriose!

Mas o governo só tem políticas de resultado para doenças letais, como os cânceres e a AIDS. Muitas pessoas não levam a endometriose a sério, só porque ela não mata. Não mata ao pé da letra, mas mata toda a mulher que existe dentro de nós. Precisamos de mudanças sérias na pauta Saúde da Mulher, já em 2011. Não podemos deixar para discutir em 2012, que vai deixar para 2013, 2014 aí vai, do jeito que muitos políticos no Brasil gostam: sempre adiar, mas nunca resolver nada. Precisamos de políticas sérias, mas não só aquelas que ficam no papel ou no papo. Temos que ter um forte engajamento para disseminar informações sobre a doença em palestras, campanhas, mas também, temos que realizar ações de verdade, que estejam presentes no dia a dia das portadoras.

Só nós, portadoras, sabemos o nosso sofrimento e as nossas limitações. Afinal, na Europa, a endo já é considerada uma doença social desde 2004. Sabe por quê? Porque o governo gastava mais dinheiro tratando as portadoras, do que com as mulheres que tinham câncer de mama, um dos mais perigosos por ser um dos mais propensos a metástase. Em todo o mundo, a endo é a segunda maior causa de cirurgias. Só perde para a cesárea, acredita! Só que, no caso da endo, não tem como os médicos tentarem fazer o parto normal. Pense nisso! Passe a informação adiante e torne-se um cidadão consciente.

Beijos com carinho e até a próxima!

Muito prazer, eu tenho endometriose!

Olá, muriaeenses!!!

É com muito prazer e, até um pouco emocionada, que estreio a minha coluna mensal no Muriaé na Web. Quando a Ludmila enviou o convite por e-mail, fiquei extremamente feliz. Sou editora do blog A Endometriose e EU (clique para conhecer) e, foi lá, que Lud me achou. Nasci em Rio Verde, Goiás, mas desde 1994, moro na capital paulista. Em voga, por conta do personagem de Camila Pitanga, a Carol Miranda, em Insensato Coração, novela global das nove, a endometriose é uma doença que se dá por meio da menstruação. 

Hoje, ela atinge cerca de 15% das mulheres em idade reprodutiva, ou seja, mais de seis milhões de brasileiras. Na novela, a Carol ficou infértil por conta da doença. A infertilidade é uma das sequelas que a doença traz à mulher. Tida como a doença da mulher moderna, a endometriose ainda é desconhecida por boa parte dos ginecologistas e, também, das mulheres. Foi por isso que criei o blog, para alertar e informar, pois, quanto mais rápido for o diagnóstico, menos a mulher sofre. 

Infelizmente, ela ainda não tem cura. Pior do que não ter cura é ser portadora de uma doença crônica e progressiva. Aqui, contarei o meu longo caminho até a descoberta da doença e, também, o meu tratamento. A endometriose não é transmitida sexualmente, viu gente. Mas ela também tem outra consequência muito grave: a dispareunia. A dispareunia nada mais é do que a dor durante a relação sexual. Eu não fiquei infértil, mas tive a dispareunia, a meu ver, uma das piores consequências da doença. Aos poucos falerei tudo aqui, inclusive, o meu tratamento para melhorar essas dores.

Voltando à novela, muitas portadoras estão revoltadas pelo fato de Insensato Coração não mostrar a ?nossa realidade?. Digo realidade, porque até ter o diagnóstico, que demora em média de sete a dez anos, nós sofremos muito. São cólicas e mais cólicas que vão aumentando com o passar dos meses e dos anos. Por ela, as mulheres abandonam os seus trabalhos, a vida social e a sexual. Ou seja, praticamente vivemos em função da endo. É uma tortura diária. 

Na novela, a personagem trabalha, não tem dores e, digo, as dores são incapacitantes. Carol Miranda só tem o diagnóstico de que não pode ter filhos. Desde 2007, sou repórter de entreterimento, ou seja, de celebridades. Assim que soube, corri e enviei um e-mail ao Ricardo Linhares, autor junto com Gilberto Braga. Nele, contei um pouco da minha história, do tratamento e falei sobre a realidade da doença. Supersimpático, ele respondeu imediatamente e, ficou impressionado com tudo o que passei. E, olha, que a minha foi bem branda. De fato, ele não sabia de como a doença é cruel. Disse que se inspirou no caso de uma amiga dele, onde sua endometriose ?regrediu?, e ela conseguiu engravidar. Como a doença é progressiva, falei que é impossível essa regressão. Informei que a gravidez, é usada como um tipo de tratamento, o qual me foi oferecido, mas não como cura.

Porém, enquanto muitas portadoras se revoltam (o que não dá para contestar!), eu agradeci a ele e ao Gilberto por serem os primeiros autores a retratarem esse drama, que atinge mais de 85 milhões de mulheres no mundo todo, em um folhetim. Outras informações: http://aendometrioseeeu.blogspot.com/2011/02/endometriose-em-insensato-coracao.html